Depois de anos sendo um pop culture junkie, finalmente resolvi canalizar minhas energias em algo útil (assim, dependendo da sua perspectiva). Esse blog tem, portanto, o objetivo de documentar quem está causando na cultura pop mas não comentando do óbvio e sim antecipando tendências e o que está por vir. E-mail me @ tacausando@gmail.com. Mais sobre a nossa proposta.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Retrospectiva 2010: UK Music Scene (parte 2)

Consolidações

Ter um CD de enorme sucesso é incrível para qualquer artista. Mas a consolidação do mesmo só vem quando analisamos os resultados do segundo CD. Quantos zilhões de atos tiveram enorme buzz e vendas com seu primeiro CD e despontaram para o anônimato com o segundo? Jewel vendeu 15 milhões de cópias com seu primeiro CD e nunca conseguiu repetir o sucesso; Alanis Morissette vendeu 33 milhões com Jagged Little Pill; James Blunt, 12 milhões com Back to Bedlam; Mika, 6 milhões com Life in Cartoon Motion e assim por diante. Nenhum desses artistas conseguiu comercializar nem perto da metade das vendas dos seus primeiros álbums com o follow-up.

Em 2009, as
consolidações na cena britânica foram Lily Allen e Paolo Nutini. Ambos conquistaram gigantesco sucesso de crítica e de vendas com seu primeiro CD e também com seus segundos lançamentos.



E em 2010, apesar de não ter lançado nenhum álbum, quem se mostrou uma força na cena musical foi Adele.

Adele surgiu em 2007 quando, depois de ser descoberta no MySpace, ela foi contratada pela XL Records. Seu primeiro single, Hometown Glory, alcançou o top 20 (19ª posição) e o segundo, Chasing Pavement, explodiu, alcançando a 2ª posição. Rapidamente, Adele foi abraçada pela crítica e os executivos musicais apostaram suas fichas no sucesso da cantora, resultando nela ter ganho a enquete da BBC The Sound of the Year e também o BRIT Critics Choice no BRIT Awards.

O álbum, 19, nomeado assim porque ele foi escrito quando a cantora tinha 19 anos, estreou em primeiro lugar e, ao longo do ano, vendeu 600 mil cópias.

Depois de alcançar sucesso no Reino Unido, o CD explodiu nos EUA graças a participação de Adele no Saturday Night Live. O programa foi ao ar perto das eleições e as paródias de Tina Fey da candidata a vice-presidência republicana Sara Palin tinham se tornado um gigantesco fenômeno no país. A intérprete deu a sorte de ser convidada para cantar exatamente no episódio em que a Sara Palin real interagiria num sketch com Tina Fey. A emissão atraíu 17 milhões de pessoas, um recorde histórico para o programa, e Adele impressionou os telespectadores, fazendo com que seu álbum fosse catapultado nas paradas americanas, onde acabou vendendo mais de 1 milhão de cópias (a vitória de Adele como Best New Artist no Grammy de 2009 impulsionou ainda mais as vendas do CD).


Adele com seus Grammys: consolidação nos EUA

Sucesso na Europa e nos EUA, reconhecimento crítico, um monte de prêmios. A "consolidação" de Adele não parece exatamente uma surpresa quando se vê assim.

E, quando você leva em conta o talento e a voz de Adele, realmente, não é uma surpresa. Mas, ao mesmo tempo, não tem prêmios nem sucesso comercial em todo o planeta que garanta que uma artista vá conseguir se manter no topo depois de um debut elogiadissimo.

Principalmente uma artista como Adele que foi catapultada por ser parte de um fenômeno muito especifico da época. Em 2008, a grande moda da indústria eram cantoras britânicas com vozes poderosas e influenciadas pelo soul e pelas divas negras americanas dos anos 60. E quando alguém explode por ser parte de um fenômeno específico, uma vez que esse fenômeno passa, é díficil o artista se manter, não importa o quão premiado ele foi durante o período.

Além disso, mesmo enquanto ela estava fazendo gigantesco sucesso, Adele estava sendo ofuscada não só por Amy Winehouse, cujo Back to Black é um dos maiores fenômenos da atualidade com mais de 10 milhões de cópias vendidas e é o responsável por criar o fenômeno do qual Adele fez parte (cantoras brancas e britânicas com pegada soul e vozeirão) mas também por Duffy, parte do mesmo fenômeno, cujo Rockferry vendeu 6 milhões de cópias. Perto do gigantesco sucesso das duas cantoras, os 2.1 milhões de cópias de 19 pareciam modestos.



Depois de um começo forte em 2009, graças a vitória de Adele nos Grammy's, as vendas do CD se acalmaram ao longo do ano. Então como que, apesar de não ter lançado nenhum novo material em 2010, Adele se consolidou no ano passado?

No segundo semestre do ano, o reality de talento The X Factor, o maior fenômeno televisivo do Reino Unido, reestreou nas TVs britânicas para sua sétima temporada. E uma das músicas mais populares nas audições? Make You Feel My Love, um cover de Bob Dylan que foi lançado como o último single do CD no fim de 2008 e não tinha causado nenhum impacto.

Cada vez que a música era cantada no programa, mesmo que por cantores que não passavam pela primeira eliminatória, ela subia no iTunes e as vendas estavam tão forte que a música ganhou nova vida e voltou a tocar nas rádios e nos canais de música. Com isso, Make You Feel My Love alcançou a quarta posição na parada ofícial britânica dois anos após ter sido lançada e se transformou na música oficial do natal no país, tocando sem parar ao longo dos holidays de fim de ano.



O sucesso da música fez com que o álbum, 19, voltasse para o top 10 de CDs mais vendidas e fez com que o público lembrasse o quão boa Adele realmente é.

Porque sim, Adele foi bastante reconhecida quando seu álbum foi lançado em 2008. Mas, ao mesmo tempo, ela foi ofuscada pelas outras cantoras do mesmo gênero. Porém, toda vez que o público parava e ouvia, todo mundo concordava que ela era incrível. Nos EUA, até conseguir o slot no Saturday Night Live, Adele tinha sido ignorada. Uma vez que as pessoas pararam para ouvir, elas se apaixonaram. No Reino Unido, o mesmo aconteceu com o single de Make You Feel My Love: ele foi inicialmente ignorado, mais uma vez que as pessoas ouviram de verdade, elas se encantaram pela música e, mais do que isso, foram atrás do CD.

O sucesso de Adele no segundo semestre de 2010, com uma música lançada em outubro de 2008, e a segunda vida que o CD ganhou, apesar de já ter alcançado sucesso dois anos antes, foi o que consolidou Adele e preparou o público para um retorno mais que triunfal com o segundo álbum da cantora, 21.

Mas o sucesso de 21 é assunto para outro post...

Fracassos



O fracasso mais retumbante do ano foi
Duffy.

A cantora de 26 anos, nascida no País de Gales, é o maior exemplo de tudo que eu falei ai em cima. Seu álbum foi um gigantesco sucesso, vendeu milhões, ganhou todos os prêmios e seu gênero se adequava perfeitamente a moda do momento: cantora branca com voz de negra e músicas influenciadas pelo soul.

O lead single Mercy tocou sem parar em todo o mundo e, no Reino Unido, alcançou a primeira posição, sendo o terceiro maior vendedor do ano. A música seguinte, Warwick Avenue, também foi um gigantesco sucesso, alcançando o top 10 em todo o planeta e o terceiro lugar no UK.

O álbum, Rockferry, vendeu 6 milhões de cópias no mundo todo. Nos EUA, onde ganhou o Best Pop Vocal Album nos Grammy's, foram comercializadas 1 milhão de unidades. No Reino Unido, onde Duffy varreu os BRIT Awards, foram vendidos 2.1 milhão de cópias e o CD encerrou 2008 como o maior vendedor do ano.



Fast-forward para 2 anos depois. Em outubro, a cantora lança o primeiro single do seu esperado segundo CD, Well, Well, Well. A música não consegue sequer penetrar o top 40 do Reino Unido. Um mês mais tarde, o CD, Endlessly, estréia na nona posição antes de sumir do top 100. Nos EUA, o álbum não consegue passar da 72ª posição. Além disso, o CD não consegue penetrar o top 10 em nenhum dos mercados importantes: na França, onde o CD anterior vendeu 440 mil cópias, Endlessly estréia em 18º antes de sumir; na Alemanha, em 15º; na Austrália, onde Rockferry foi certificado platina dupla, em 27º. E assim por diante...

O irônico é que, enquanto Endlessly fracassava estrepitosamente nas paradas britânicas, 19, o álbum de Adele que foi lançado dois meses antes de Rockferry, estava dentro do top 10, enquanto Make You Feel My Love figurava no top 5 dos singles mais vendidos.



Outra cantora que não conseguiu follow-up o sucesso da sua estréia foi Kate Nash, 23.

Em 2007, a garota era a queridinha do indie pop, o sucesso surpresa independente. Sua música, Foundations, foi um gigantesco sucesso, alcançando o segundo lugar na parada de singles britânicos (detalhe: 16 cópias separaram a música de Kate Nash do primeiro lugar, The Way I Are do Timbaland com Keri Hilson). O álbum, Made of Bricks, estreou em primeiro lugar, alcançou disco de platina e vendeu mais de 500 mil cópias, dando origem a mais dois top 30 hits (Mouthwash e Pumpkin Soup). Nos BRIT Awards, a jovem ganhou um dos principais prêmios, Female Singer of the Year.

Apesar de não ter sido uma queda tão retumbante quanto Duffy, Nash também não conseguiu manter o hype com seu segundo lançamento. Apesar de forte apoio da Radio 1, a principal rádio britânica, Do-Wah-Doo não conseguiu penetrar o top 10, tendo que se contentar com a 15ª posição. O CD, My Best Friend is You, estreou em 8º antes de sumir completamente das listas dos mais vendidos, sem causar muito impacto.



Outra artista que decepcionou com seu segundo álbum foi Leona Lewis. Leona foi a grande vencedora da edição de 2006 do The X Factor. Em 2007, seu álbum de estréia, Spirit, vendeu 6 milhões de cópias em todo o mundo. No Reino Unido, foram comercializadas 3 milhões de cópias e o CD se transformou num dos lançamentos mais vendidos de todos os tempos. O primeiro single, Bleeding Love, foi a música de maior sucesso do ano a nível mundial, tendo alcançado o primeiro lugar em 18 países entre eles o Reino Unido, os EUA, a Austrália, a França e a Alemanha.

No Reino Unido, Spirit deu origem a cinco top 5 hits e dois número 1 (Bleeding Love e o cover de Run do Snow Patrol).

Em 2010, Leona lançou o esperado follow up. No UK, o primeiro single, Happy, já decepcionou ao perder a primeira posição para os Black Eyed Peas com Meet Me Halfway, tendo que se contentar com a segunda posição. O álbum estreou em primeiro lugar com vendas fortes mas, depois do período de fim de ano, as vendas desinflaram e o CD acabou sua trajetória com 600 mil cópias vendidas. Um número satisfatório mas extremamente inferior as 3 milhões de cópias do álbum anterior.

No resto do mundo, o desempenho foi ainda pior, com o CD não conseguindo causar impacto em nenhum lugar do mundo e com o single sendo completamente ignorado pelas rádios e pelo público.



A outra decepcção do mercado fonográfico britânico em 2010 foi o Westlife.

A boyband irlandesa é um dos maiores fenômenos do Reino Unido, se mantendo firme como um dos maiores grupos do país faz mais de 10 anos. Apesar de nunca terem chegado nem perto do respeito e aclame do Take That (que, diferente do Westlife, compõem as próprias músicas), o Westlife teve 14 singles e sete CDs alcançando a primeira posição. Todos os seus 25 singles entraram no top 10 (23 deles no top 5) e seus onze CDs estrearam no top 3.

Além disso, eles conseguiram fazer a transição de boyband adolescente para grupo vocal adulto com grande sucesso e eles têm fãs em todos os demográficos: de adolescentes a senhoras.

Eu acho o Westlife a coisa mais vanilla e boring da história, com zilhões de baladas sobre amor, em sua maior parte covers. Mas, bem ou mal, eles são uma história de sucesso.

Porém, depois de 12 anos, 2010 foi um ano de decepções para o Westlife. Para um grupo que teve apenas UMA música estreando fora do top 5 (oitava posição), ter o primeiro single do novo CD alcançando apenas o décimo lugar antes de cair do top 10 é um desastre. Apesar de uma performance high profile no The X Factor, Safe durou uma semana dentre os dez mais vendidos, o pior desempenho da história do grupo. O CD, Gravity, estreou em terceiro lugar e também rapidamente sumiu da lista, sendo o primeiro álbum da história da banda a não alcançar certificação de plátina.

Será que, depois de todos esses anos, o Reino Unido finalmente está cansando irlandeses? Ou será que a equipe por detrás da banda conseguirá remodela-los novamente e assim garantir que eles continuem relevantes por mais uma década? Vamos ter que esperar para ver.

Capítulos anteriores: Retrospectiva 2009 (parte 1) (parte 2); Retrospectiva 2010 (parte 1).
Próximos capítulos:
os mais vendidos

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Retrospectiva 2010: UK Music Scene (parte 1)

Eu sei que já estamos em 2011 faz um tempinho já mas eu ainda tenho muita retrospectiva de 2010 para postar.

O Reino Unido é o terceiro maior mercado fonográfico do mundo, atrás dos EUA e do Japão. Apesar da Alemanha e da França serem países com população maior e economias mais forte, o consumo de música na Grã-Bretanha é mais que o dobro desses dois países (que são, respectivamente, o quarto e o quinto maiores mercados). E, quando se leva em consideração o número de habitantes, o Reino Unido é o país que, proporcionalmente, mais consome música no planeta, com semanas em que o primeiro lugar de vendas supera até mesmo os números dos EUA e do Japão.

Mas deixando números de lado, o Reino Unido pode ser considerado o pólo musical do planeta. Foi lá que surgiram quase todos os atos que mais marcaram a história da música recente: Beatles, Rolling Stones, Queen, David Bowie, The Who.

Por tudo isso, estou sempre de olho no mercado musical britânico.
Então, sem mais delongas, vamos dar uma olhada no que aconteceu de interessante no último ano no Reino Unido:

Newcomers

2010 foi um ano EXTREMAMENTE próspero para novos talentos na cena musical britânica. Teve para todos os gostos: soul, rap, pop adolescente, synthpop, folk e até jazz.



Plan B não é exatamente um newcomer. De fato, o rapper lançou seu primeiro CD, Who Needs Action When You Got Words, em 2006.

O álbum foi muito elogiado pela crítica, com muitos apostando que o cantor, com suas músicas sobre violência juvenil, drogas, estupro e a vida na periferia, era o equivalente britânico para o Eminem. Naquele ano, Plan B ficou em quarto lugar no BBC Sound of the Year, uma enquete anual onde profisionais do ramo da música votam em quem acreditam que irá brilhar ao longo do ano. Porém, apesar do burburinho, o álbum não causou muito impacto com o público e o londrino só alcançou o estrelato ano passado, com o gigantesco sucesso do seu segundo CD, The Defamation of Strickland Banks.

Diferente do seu álbum anterior, com um som bastante urbano e hip-hop, The Defamation é um CD conceitual cuja música é predominantemente soul. O álbum conta a história de Strickland Banks, o alter ego do intérprete, um cantor que vai para prisão por um crime que não cometeu. Cada música é um capítulo na trajetória do injustiçado rapaz.




The Defamation of Strickland Banks foi elogiadíssimo pela crítica (até por Elton John, que afirmou considerar o álbum "o melhor do ano"), ganhou vários prêmios e foi um gigantesco sucesso comercial, vendendo mais de 800 mil cópias ao longo de 2010. Com as vendas fortes continuando nas primeiras semanas de 2011, não deve demorar muito para o álbum ultrapassar a barreira do milhão.

O primeiro single do álbum, Stay too Long, alcançou a nona posição, dando a Plan B (née Benjamin Paul Ballance-Drew, mais conhecido como Ben Drew) seu primeiro top 10 hit. Mas foi a segunda música de trabalho, She Said, lançado em março, que catapultou o musico ao estrelato. A canção alcançou a terceira posição e vendeu mais de 500 mil unidades ao longo do ano passado.

Em 2011, Plan B, que já mostrou com The Defamation of Strickland Banks se
u potencial para contar histórias e atuou em diversos filmes, irá estrear como diretor do filme Ill Manors. Bem ao seu estilo, a pelicula será cheia de rap e contará a história de um grupo de personagens vivendo num bairro barra pesada da grande Londres. Também nesse ano, ele lançará o álbum The Ballad of Belmarsh, com "cenas deletadas" da vida de Strickland Banks. O CD, com um som muito mais pesado e hip-hop que seu antecessor, será lançado independentemente, uma vez que Plan B, apesar do enorme sucesso de seu álbum, não conseguiu a aprovação do material por parte da gravadora.

Plan B ainda planeja transformar a história de Strickland Banks num filme e, claro, continuar a história inconclusa do rapaz em mais CDs.

Se todas essas apostas ousadas darão certo? Ao longo do ano, saberemos a resposta.

Escute mais: Love Goes Down; Stay Too Long; Prayin'; Writing on the Walls.



Mumford & Sons é uma banda de folk rock composta por quatro integrantes: Marcus Mumford (vocais, violão, bateria, mandolin), Ben Lovett (vocais, teclado, acordeão, bateria), "Country" Winston Marshall (vocal, banjo, dobro) e Ted Dwane (vocais, contrabaixo, bateria). Apesar de que eles lançaram seu primeiro CD, Sigh No More, em outubro de 2009, foi em 2010, quando a rádio britânico abraçou a música Little Lion Men, que eles explodiram nas paradas, com o álbum vendendo mais de 800 mil cópias ao longo do último ano e tendo alcançado a certificação de platina tripla (por mais de 900 mil cópias comercializadas).



Mas mais do que a Grã-Bretanha, o Mumford & Sons conquistou o mundo. Na Austrália, o CD alcançou dupla platina e o single de Little Lion Men alcançou a terceira posição. Nos EUA, eles venderam mais de 500 mil cópias do CD (disco de ouro), 1 milhão de unidades de Little Lion Men e foram indicados a dois Grammy's.

Escute mais: The Cave; Winter Winds; Timshel.




O ano de 2010 foi provavelmente o ápice da música urbana britânica. Dizzee Rascal, N-Dubz, Chipmunk, Professor Green e muitos outros rappers britânicos conseguiram emplacar grandes hits e tocaram sem parar nas rádios. Porém, sem a menor duvida, a grande revelação e a estrela urbana que mais brilhou em 2010 foi Tinie Tempah (pronuncia-se Taini Tempah).

Desde 2006, quando sua música Wifey Riddim ganhou repercussão em algumas rádio, Tinie tem criado burburinho e atraido fãs. Mas só em 2009 que o rapaz de 21 anos conseguiu seu record deal, assinando com a gravadora Parlaphone.

Em fevereiro, Pass Out, seu primeiro single, estreou na primeira posição. Num ano cujas paradas de single britânicas foram tomadas por artistas estado-unidenses, Pass Out foi a música de um artista britânica que obteve as maiores vendas, com mais de 600 mil unidades vendidas.



O seu primeiro CD, Disc-overy, lançado em outubro, foi direto para o topo com mais de 85 mil cópias vendidas na primeira semana, um número extremamente alto para um artista novato. Em três meses, o CD já tinha sido certificado disco de platina e, com vendas fortes nas primeiras semanas de 2011, o álbum deve alcançar dupla platina por 600 mil cópias vendidas nos próximos meses.

Diferente dos rappers americanos, Tinie não tem uma atitude thug. Em entrevistas, ele é sempre sorridente e modesto e, diferente dos baggy jeans e camisetas gigantescas usadas por Jay-Z e Lil Wayne, Tempah se veste de maneira bastante estilosa, com um look mega atual e extremamente londrino.

Eu sou um grande fã de Tinie e de suas músicas e adoro o fato de suas faixas serem melódicas e ecléticas. Pass Out, o primeiro single que arrasou nas paradas britânicas, dá um twist londrino ao rap, tem uma batida fantástica e é feita para ser tocado no volume máximo e arrasar nas pistas de dança. O single seguinte, Frisky, que alcançou a segunda posição nos charts, segue a mesma linha do antecessor enquanto o rapper muda para uma batida house em sua terceira música de trabalho, Miami 2 Ibiza
, uma colaboração fantástica com Swedish House Mafia que alcançou o quarto lugar. Na maravilhosa Written in the Stars, quarto single do álbum e segunda música do cantor a alcançar a primeira posição, Tinie combina seu rap e suas batidas incríveis com um refrão extremamente catchy e pop cantado por Eric Turner. No seu single atual, Wonderman, a combinação de seu rap com a voz única de Ellie Goulding produz mais uma faixa incrível e extremamente pegajosa.

Em resumo: o álbum de Tinie é cheio de batidas fantásticas e as músicas são melhores apreciadas no volume máximo e feitas sob medida para todos se acabarem na pista de dança. Com essa combinação, nenhuma surpresa que o CD e o rapper estejam arrasando.



Ellie Goulding já começou o ano causando ao ser votada The Sound of 2010 na enquete da BBC, onde profissionais do ramo da música votam em quem eles acham que será o grande sucesso do ano. Algumas semanas mais tarde, ela ganhou o BRIT Critics Choice no BRIT Awards, consolidando a crença que a indústria tinha nela.



A quantidade de apoio por parte da indústria meio que deu a entender que eles esperavam que a garota de 24 anos, sozinha, sustentasse o mercado inteiro em suas costas. Não foi exatamente o caso mas isso não quer dizer que Ellie fez feio. Muito pelo contrário: Starry Eyed, seu segundo single, alcançou a quarta posição e foi um gigantesco sucesso de airplay e de vendas. Seu CD, Lights, estreou na primeira posição e foi certificado disco de platina.

Com sua voz única e suas melodias que misturavam synthopop, instrumentos acústicos e uma pitada folk, o álbum de Ellie foi abraçado pela crítica e pelo público, principalmente por garotas jovens que se encantaram com o estilo da intérprete e com suas letras de amor que, apesar de identificáveis, não caiam em clichês. O CD de Ellie, Lights, foi, sem duvida, um dos meus lançamentos favoritos de 2010. Uma coisa que me chamou atenção foi que todas as faixas eram bastante boas e não tinha uma música que me dava vontade de pular (minhas favoritas incluem This Love (Will Be Your Downfall), Everytime You Go, Your Biggest Mistake e I'll Hold My Breath).




No final do ano, Ellie foi chamada pela loja de departamento John Lewis para cantar uma versão de Your Song para seu anuncio de natal. A versão foi um gigantesco sucesso, ganhando repercussão na rádio e alcançando o topo das paradas do iTunes (nos charts oficiais, a música alcançou a segunda posição).

Em 2011, Ellie se prepara para lançar seu álbum nos EUA.



E o grande sucesso indie pop do ano foi sem a menor duvida o The xx, formado por três londrinos: a vocalista Romy Madley Croft, o baixista Oliver Sin e Jamie Smith, responsável pelas batidas e produção (a quarta integrante, Baria Querashi, saiu logo depois do lançamento do álbum).

O CD homônimo deles foi lançado no fim de 2009 e foi incluído na lista de melhores do ano de todas as revistas especializadas. Os críticos amaram o álbum. O resultado foi uma avaliação de "Universal acclaim" do site Metacritic, que compila a opinião de diversos críticos.



Em 2010, com a participação em diversos festivais e o apoio de algumas rádios, a popularidade deles aumentou substancialmente, com o CD alcançando a 3ª posição das paradas e obtendo certificado de platina por mais de 300 mil cópias vendidas, apesar do grupo não ter feito nenhuma aparição na televisão (a música deles, porém, foi utilizada em diversos seriados e comerciais). Eles também ganharam o prestigiosissímo Mercury Prize.

Particularmente, não sou um grande fã da banda mas tenho que admitir que eles tem um estilo bastante único e que, por isso, eles são um breath of fresh air nas listas do mais vendidos.

Escute mais: Crystalized; VCR; Basic Space.



Take That, Westlife e Boyzone são algumas das "boybands" que aguentam firme no cenário músical britânico. Mas, com seus integrantes todos acima dos 30 anos e sua fanbase formada por donas de casa, eles estão mais para "grupos vocais" do que a definição clássica do termo: jovens bonitos que enlouquecem adolescentes.

Porém, desde que o JLS surgiu no The X Factor em 2008 e teve seu primeiro álbum ultrapassando a barreira do milhão no ano seguinte, as boybands em sua definição clássica estão reaparecendo no cenário britânico. E a que mais causou impacto em 2010 foi o The Wanted.

Como toda boyband que se preze, os Wanted surgiram através de um gigantesco casting orquestrado por uma empresária. No caso, Jayne Collins que já tinha certa experiência para coisa ao ter também montada The Saturdays, o girl group teen número 1 do país (que, alias, a demitiu recentemente).

Os escolhidos foram Max, Tom e Siva, todos de 22 anos; Jay, de 20 e Nathan de 17. Os cinco lançaram All Time Low, o primeiro single, no fim de julho e a música foi direto para o primeiro lugar nas paradas. Heart Vacancy, a segunda música de trabalho, estreou em segundo e o CD, lançado em outubro, na quarta posição.



O The Wanted ainda vai ter que suar para alcançar o sucesso do JLS que tem, entre suas conquistas, quatro singles número 1, seis top 5 hits, uma turnê pelas maiores arenas do país e um CD com mais de 1 milhão de cópias vendidas (e outro certificado dupla platina). Porém, para um grupo que não teve o poderosíssimo The X Factor
como plataforma, eles não estão fazendo nem um pouco feio, com seu álbum de estréia tendo alcançado disco de plátina e seus shows se esgotando com facilidade.

O grupo agora prepara o segundo CD. O primeiro single,
Gold Forever, será a música oficial do Comic Relief. Ser responsável pelo single de um dos programas caritativos da BBC é um rito de passagem para todo ato teen pop que se preze (Spice Girls em 1997, Boyzone em 1998, S Club 7 em 2000 e 2001, Westlife também em 2001, Girls Aloud em 2004, McFly em 2005, The Saturdays em 2009, JLS em 2010 etc) e também é uma boa forma de garantir um número 1.

Como a maior parte das boybands adolescentes, o The Wanted é mais um "flavor of the month" do que um ato que realmente deverá se manter no topo por muito tempo. Os meninos não tem o talento e o impacto cultural necessário para se transformar numa força como Take That mas, como Westlife e Boyzone provaram, uma boa equipe por detrás pode estender seu sucesso por mais de uma década. Por outro lado, o The Wanted ainda não alcançou o nível de sucesso que nenhuma dessas bandas causou no passado então por quanto tempo eles vão se manter relevantes
is yet to be seen.

Escute mais: Heart Vacancy.




Aos 33 anos, Rumer é uma década mais velha que a maior parte das cantoras pop que brilham no cenário britânico. Nascida no Paquistão de pais britânicos, Sarah Joyce, seu nome verdadeiro, foi, na verdade, resultado de um affair que sua mãe teve com o cozinheiro enquanto eles moravam em Islamabad. Ela cresceu sem saber disso e, quando o fato foi descoberto, o casamento dos seus pais veio ao fim. O trauma fez com que ela sofresse de depressão e de ansiedade.



Depois de anos tentando emplacar uma carreira de sucesso, Rumer foi cuidar de sua mãe que estava sofrende de câncer. A morte dela fez com que a interprete fosse viver numa comunidade hippie e lá ele conheceu Steve Brown, um compositor cujas únicas experiências high profile eram musicas incidentais para programas televisivos de comédia.

A dupla deu certo, as músicas de Rumer repercutiram e ela finalmente conseguiu um record deal. A Radio 2, a principal rádio adulto contemporânea da Grã-Bretanha, se entusiasmou com o primeiro single da cantora, Slow, e colocou a música em alta rotação, criando enorme interesse nela. Lançado em novembro, o primeiro álbum de Rummer, Seasons Of My Soul, com aquele estilo bem relaxada para ser usada no fundo de dinner parties (a la Norah Jones) com bastante influências de jazz e soul, estreou em terceiro lugar em novembro e já vendeu quase 400 mil cópias, sendo certificado disco de platina.

Entre os fãs de Rumer estão Elton John, Jools Holland e Burt Bacharach.

Escute mais: Aretha, Long, Long Day.

Capítulos anteriores: Retrospectiva 2009 (parte 1) (parte 2).
Próximos capítulos:
as consolidações, os fracassos, os sucessos.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Realeza britânica: Take That and Party



Coldplay? Muse? Paul McCartney? Que nada! Atualmente, não existe nenhum ato musical mais gigantesco na Grã-Bretanha do que o Take That.

Take That, para quem não sabe, foi uma boyband de gigantesco sucesso na Europa no inicio dos anos 90. Eles se diferenciavam das boybands rivais pelo fato de um de seus integrantes, Gary Barlow, na época com apenas 19 anos, ser responsável pelas letras e pelo arranjo de quase todas as músicas.


Sem medo de ser cafona nos anos 90

Em 1995, a imprensa europeia entrou em polvorosa quando Robbie Williams, um dos cinco integrantes da banda, anunciou que iria deixar o grupo. No ano seguinte, depois de uma turnê extremamente bem-sucedida, os quatro membros restantes anunciaram que iriam encerrar suas atividades, para o desespero de milhões de garotas adolescentes (para conter a histeria, linhas telefônicas foram colocadas no ar pelo governo para atender jovens inconsolaveis e que, pasmem, estavam considerando suicídio por causa do rompimento do grupo).

Gary Barlow, o garoto prodígio da banda, não conseguiu emplacar uma carreira solo. Robbie, porém, se transformou numa das maiores estrelas pop de todo o planeta e não perdia nenhuma oportunidade para jogar sal na ferida de seus ex companheiros de banda, com quem ele teve um tumultuoso rompimento. Robbie acreditava que, no Take That, ele nunca teve oportunidade de realmente brilhar e que o único que tinha liberdade artistica e direito de opinião era Barlow. Por isso, sua vitória solo acima do líder da sua ex-banda foi como uma vitória pessoal para o cantor.

Em 2005, quase 10 anos depois do fim do grupo, a ITV1, o principal canal privado da Grã-Bretanha, resolveu produzir um documentário sobre a banda e conseguiu convencer todos os integrantes -- inclusive Robbie -- a darem seus depoimentos. O especial registrou audiências altíssimas, provando que ainda tinha espaço para o Take That no coração do publico britânico.

Confiantes de que não tinham sido completamente esquecidos, os quatro membros do grupo -- dessa vez, sem o Robbie -- resolveram se reunir para uma turnê e uma coletânea de grandes sucessos. O sucesso de ambos excedeu as expectativas, com a procurar por ingressos da turnê sendo tão gigantescas que o grupo teve que abandonar arenas por estádios para satisfazer a inesgotável demanda.

Provado que ainda existia um enorme apetite pelo grupo, o Take That resolveu se reformar de vez. E o sucesso do quarteto excedeu as expectativas até do analista mais otimista: a banda foi abraçada pelo público de uma maneira sem prescedentes, superando -- por muito -- o sucesso da primeira fase, nos anos 90.

O Take That conseguiu não perder a essência pop que os fez populares mas, ao mesmo tempo, conseguiram amadurecer e produzir músicas de qualidade que soam como uma evolução natural do que eles produziam nos anos 90. Por isso, o quarteto foi abraçado com gigantesco entusiasmo não só pela população mas também pela crítica, que os esnobava em sua primeira encarnação.

Desde que se reformaram, esses foram alguns das conquistas do Take That:
  • Beautiful World, o primeiro CD da banda pós-reunião, lançado em 2006, vendeu 2.7 milhões de cópias no Reino Unido, superando a venda de todos os CDs do grupo nos anos 90 e se transformando num dos álbuns mais vendidos de todos os tempos no país.

  • O álbum deu origem a três gigantescos sucessos. Patience e Shine alcançaram a primeira posição nas paradas, com Shine sendo a segunda música mais tocada pelas rádios inglesas na primeira década do século 21 (a mais tocada foi Chasing Cars do Snow Patrol). Rule the World nunca alcançou o topo dos charts, tendo que se contentar com a segunda posição. Mas nem por isso a música foi menos bem sucedida: o single teve tanto staying power que se transformou na segunda música da banda a ultrapassar a barreira do milhão de unidades vendidas (junto com Back for Good de 1995).



  • Em 2008, o CD seguinte, The Circus, foi lançado sob enorme expectativa e não decepcionou: com 478 mil cópias vendidas em sua primeira semana, o álbum registrou uma das maiores vendas de primeira semana da história do país.

  • No final de sua trajetória, o CD tinha vendido 2.2 milhões de cópias.


    Com seus shows grandiosos, ingressos para shows do Take That são quase impossíveis de se obter

  • A turnê de 2009, Take That Presents The Circus Live, passou por sete dos maiores estádios da Grã-Bretanha, com 20 shows esgotados e mais de 1.2 milhões de ingressos vendidos. Com lucro de 50 milhões de libras, The Circus Live se transformou na mais bem-sucedida turnê da história do país.

  • O DVD do show vendeu 1 milhão de cópias, se transformando no DVD musical mais vendido da história da Grã-Bretanha.
Quando parecia que o Take That não podia crescer mais, o anuncio que todos esperavam fazia mais de uma decada foi feito: Robbie Williams iria retornar a banda.

Em outubro, com oito meses de antecedência, os ingressos para a primeira turnè da banda como um quinteto em mais de 15 anos foram postas a venda. A procura por ingressos foi tão gigantesca que os sistemas telefônicos britânicos e todos os sites de venda de ingresso colapsaram. O Ticketmaster anunciou em um comunicado que a procura excedeu todas as expectativas, com a demanda sendo pelo menos duas vezes maior do que o segundo evento que mais causou tráfico ao site: a série de shows de Michael Jackson em Londres em 2008 que marcaria o grande retorno do musico aos palcos (e que acabou não acontecendo).



Em 24 horas, 1.5 milhões de ingressos haviam sido vendidos, com todas as localidades esgotadas. Serão 31 shows nos oito maiores estádios da Grã-Bretanha, incluindo oito noites no City of Manchester Stadium (com capacidade de 60 mil pessoas por noite) e oito noites no Wembley Stadium de Londres (85 mil pessoas por noite). Os cinco também se apresentaram pela primeira vez em estádios fora do seu país natal, com shows na Alemanha, Italia, Holanda e Dinamarca.

No fim de novembro, Progress, o primeiro CD da banda como um quinteto desde 1994, chegou as lojas. O álbum provou que o grupo não tinha medo de ousar, com uma mudança extremamente drastica em estilo (indo do pop para um som brit rock) e nas composições. É claro que, levando em conta o fato de ser uma banda inquestionavelmente e unanimemente amada, isso não afetou as vendas: nos primeiros sete dias, o álbum quebrou todos os recordes ao vender 520 mil unidades. Ao longo de seis semanas, o CD tinha movido 1.8 milhões de cópias e se transformado no álbum mais vendido do ano na Grã-Bretanha.

Progress irá ser o quarto CD consecutivo do Take That a ultrapassar a barreira de 2 milhões de cópias vendidas (incluindo a coletânea Never Forget: The Ultimate Collection, lançada em 2005). Ironicamente, o outro unico ato a conseguir a alcançar tal número com tantas lançamentos consecutivos foi Robbie Williams que, entre 1997 e 2004, teve nada menos que seis lançamentos ultrapassando a casa dos 2 milhões no Reino Unido (Life Thru Lens, I've Been Expecting You, Sing When You're Winning, Swing When You're Winning, Escapology e Greatest Hits).

O Take That mostrou sua força não só nas paradas e em vendas de ingressos, mas também nos principais eventos televisivos do final do ano. Os grandes convidados da final de Strictly Come Dancing, o segundo programa de maior audiência da TV britânica? Take That. Os grandes convidados da final de The X Factor, o programa de maior audiência (que foi ao ar no mesmo dia que a final do Strictly)? Take That (o grande convidado da final do ano passado? Paul McCartney). Os grandes convidados do Royal Variety Show, o espetáculo grandioso em prol da caridade organizado pela realeza? Take That.



O love affair entre o público britânico e o Take That parece não ter limites. E, assim, uma boyband dos anos 90 entrou para a história da música do Reino Unido como uma das bandas de maior sucesso e de maior respeito da história do país. Quem diria?



Como gigantesco fã do Take That, eu fiquei com pé atrás quando o retorno de Robbie foi anunciado. Minhas impressões na época foram registradas aqui. Desde então, tenho que admitir que já aceitei -- e até me entusiasmei -- com o retorno de Robbie. E tenho que admitir que eu fui injusto com ele: Williams não voltou para o Take That porque ele precisava de promoção extra ou porque ele estava em decadência, afinal, ele é um dos cantores pop mais bem-sucedidos da história. Ele voltou porque ele quis, provavelmente para concluir direito um período inconcluso da vida dele e para curar as feridas que ficaram abertas.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Três lições que podemos tirar de Hold It Against Me, o novo single de Britney



O mundo pop está em polvorosa com o lançamento do novo single de Britney Spears. Hold It Against Me é a primeira música de trabalho do sétimo álbum da cantora, com lançamento previsto para março, e seu sucesso reafirma a posição de Britney como um dos maiores icônes pop do planeta.

Além dos motivos óbvios, Hold It Against Me é interessante pois ele nos ensina algumas lições valiosas sobre o presente e o futuro da cultura pop:

  1. Quando Britney Spears surgiu, no fim de 1998, as comparações com Debbie Gibson e Tifanny, duas cantoras teen dos anos 80 que rapidamente caíram no anonimato, foram inescapáveis. Doze anos depois e Spears prova que os críticos não poderiam estar mais enganados: o vazamento do primeiro single do seu novo CD causou tanto tráfico que centenas de sites que disponibilizaram a música saíram do ar devido ao gigantesco número de acessos. Quando a música foi disponibilizada oficialmente no iTunes, ela vôou para o primeiro lugar em 17 dos 19 países em que ela foi lançada (EUA, Canada, Australia, Nova Zelândia, França, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Mexico, Irlanda, Finlanda, Grécia, Italia, Espanha, Portugal, Suécia e Suíça).

    Nos EUA, as rádios abraçaram a música com tanta avidez que Hold It Against Me quebrou o recorde de maior número de adds e de spins em um menor espaço de tempo (em menos de 12 horas, a música tinha sido tocada 619 vezes nas rádios americanas). Estima-se também que o single vai vender mais de 400 mil cópias em sua primeira semana, o suficiente para quebrar o recorde de Eminem que vendeu 370 mil unidades de Not Afraid em sua semana inicial no iTunes (o recorde geral pertence a Ke$ha, cujo TiK ToK vendeu 620 mil cópias na semana de natal nos EUA em 2009).

    Além disso, desde Perez Hilton até a CNN publicaram críticas da música em seus sites (o veredito foi positivo. Não que isso faça qualquer diferença para o sucesso de Britney), provando que o lançamento de Hold It Against Me não era um simples lançamento de single e sim um acontecimento.

  2. Britney não é, em nenhuma maneira, uma visionaria. Na hora de escolher os produtores de seu novo hit, Spears optou pelo caminho mais óbvio: Max Martin e Dr. Luke.

    É verdade que a relação de Britney com Max Martin precede a superexposição do produtor. Afinal, foi Martin que escreveu Baby One More Time. E foi ele também o responsável por Oops... I Did It Again e vários outros clássicos da cantora (assim como por todos os sucessos de outros icônes do pop nos anos 90: Backstreet Boys e NSync e também pelo maior sucesso do Bon Jovi desde os anos 80, It's My Life).

    Porém, no momento que Martin começou a ficar desgastado e o pop saiu da moda e foi substituido nas paradas pelo gênero urbano, Britney e sua equipe não pensaram duas vezes antes de dispensar o suéco e começar a trabalhar com produtores mais edgy.

    Em 2005, Max Martin se juntou com o novato Dr. Luke, que até então nunca tinha produzido uma música pop, e os dois escreveram e produziram Since You've Been Gone. A música foi essencial para transformar Kelly Clarkson, na época conhecida por toda população nos EUA por ter ganho American Idol mas sem uma imagem definida, em uma cantora de sucesso no mundo inteiro com um estilo próprio. E, mais do que isso, ela colocou Luke no mapa e reergeu a carreira de Martin.

    Desde então, Max e Luke colaboraram em dezenas de hits que alcançaram o topo das paradas em todo o mundo: Girlfriend da Avril Lavigne; So What, Who Knew? e U+Ur Hand da P!nk; Whataya You Want From Me do Adam Lambert; California Gurls, Teenage Dream, I Kissed a Girl e Hot n Cold da Katy Perry; Dynamite do Taio Cruz entre outras.

    Dr. Luke é considerado o produtor pop mais bem-sucedido da atualidade. O último produtor que conseguiu tantos hits globais consecutivos foi Timbaland entre 2006 e 2008 (numa tentativa de não queimar sua imagem tão rapidamente, Luke opta por ficar apenas nos bastidores, enquanto Timbaland aparecia tanto quanto os artistas para quem ele produzia). Além do que já foi citado acima, Lukaas (seu nome real) foi responsável por todas as músicas da Ke$ha, Party in the USA da Miley, Right Round do Flo-Rida, Magic do B.o.B. e My First Kiss do 3OH!3.

    Apesar de não ser tão idolatrado pela indústria quanto Luke, Martin está aproveitando seu segundo ápice, também tendo sido responsável por gigantescos hits como Raise Your Glasses da P!nk e DJ Got Us Fallin' in Love do Usher.

    Então, uma vez que Martin e Dr. Luke eram presenças fixas nas paradas e nas playlists das principais estações de rádio, Britney, que tinha dispensado Max em 2003, resolveu colaborar com a dupla. Circus, o segundo single do CD homônimo de Spears, foi produzido pelos dois. Hold It Against Me também.

    Além disso, especula-se que Dr. Luke seja o produtor executivo do álbum.

  3. Porém, com toda sua influência e sucesso, é claro que Britney é uma inciadora de tendências.

    Em Hold It Against Me, Spears introduz o dubstep, um ritmo eletrônico extremamente popular entre a juventude britânica, ao mundo inteiro.

    Surgido em Londres em 2001, dubstep tem crescido em popularidade desde então. O ritmo se caracteriza por ser dançante, eletrônico e ter batidas fortes.

    Mesmo na Grã-Bretanha, onde o dubstep é extremamente popular em boates, o ritmo só está ganhando representação nas paradas recentemente. A cantora Katy B é o maior exemplo de sucesso, tendo emplacado duas músicas de enorme sucesso nos últimos meses, Katy on a Mission (alcançou o quinto lugar das paradas) e Lights On (quarto lugar).
    Spears deve acelerar o crescimento em popularidade do ritmo não só no Reino Unido mas também em todo o mundo.

    Vários artistas que são presença obrigatória nos charts mundiais já vocalizaram ser grandes fãs de dubstep, mais notavelmente Will.i.Am e Rihanna (que é grande fã da cena musical inglesa em geral). Contudo, Britney é a primeira a utilizar o ritmo em alguma das suas músicas.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Retrospectiva 2010: os maiores nos EUA

Como todo mundo já sabe, a revista Billboard é a grande referência na hora de conferir as paradas estado-unidenses. Porém, os charts anuais deles funcionam de maneira diferente: ao invés de medir as vendas de janeiro a dezembro, as vendas são vendidas desde a primeira semana de dezembro até a última de novembro do ano seguinte.

A maior prova que o ranking anual da Billboard não mostra uma imagem fiel do ano é o fato de o primeiro lugar ser ocupado por I Dreamed a Dream, o primeiro CD de Susan Boyle. As vendas extremamente forte no mês de dezembro de 2009 foram o suficiente para fazer com que o álbum ocupasse o topo da parada anual da revista. Porém, quando se analisa as vendas ao longo dos 12 meses de 2010, o álbum de estréia de Boyle não aparece sequer entre os dez mais vendidos.

Por isso, os dados que eu uso nesse post não são da parada anual da Billboard, que você pode conferir aqui, mas do Nielsen SoundScan, esse sim que mede as vendas de janeiro até dezembro.

Além disso, eu também uso os números do Nielsen para a parada de single para manter um certo padrão: enquanto as paradas de single anuais da Austrália e da Grã-Bretanha só medem as vendas, no Hot 100 da Billboard as posições são determinadas por vendas e também por airplay de rádio. Já no caso do Nielsen, as paradas são só determinadas pelas vendas, o que eu acho mais justo.

Mas enfim, vamos aos números:

1. Recovery - Eminem (3.415 milhões)




Depois de críticas mornas do seu CD de comeback, Relapse, Eminem faz o seu verdadeiro retorno triunfal com Recovery. O álbum teve a segunda maior venda de primeira semana do ano (741 mil cópias) e deu origem a dois singles número 1 (Not Afraid e o giga smash global Love the Way You Lie). Eminem já encabeçou a parada anual do Nielsen SoundScan uma vez antes (com The Eminem Show que vendeu mais de 7 milhões de cópias em 2002), fazendo dele o primeiro artista a alcançar o primeiro lugar duas vezes na lista desde que o Nielsen começou a levantar as vendas em 1991. Eminem quebra mais um recorde ao ter o CD de rap mais vendido do ano pela quinta vez (num distante segundo lugar, o rapper 50 Cent que, apesar de ter tido sucesso passageiro, conseguiu isso duas vezes).

As 3.415 milhões de unidades vendidas incluem 852 mil cópias digitais. Com isso, Recovery se transforma no CD que mais vendeu digitalmente na história.

Eu já escrevi sobre o sucesso do novo CD do Eminem aqui.



2. Need You Now - Lady Antebellum (3.089 milhões)

O sucesso inesperado do ano foi o trio country Lady Antebellum, impulsionado pelo enorme sucesso da música que dá nome ao álbum. Country é o gênero que mais vende nos EUA e uma vez que você consegue crossover para as rádios pop (como aconteceu com Need You Now), o sucesso alcança um nível anda mais impressionante.

3. Speak Now - Taylor Swift (2.96 milhões)

Maior exemplo de ato country que conseguiu crossover para o público pop, Swift aparece em terceiro lugar, apesar de ter lançado seu CD perto do final do ano. O álbum vendeu 1.2 milhões de cópias em sua primeira semana (o primeiro CD a ultrapassar 1 milhão em uma semana desde 2007, quando Lil Wayne conseguiu o feito com The Carter II), ultrapassando Eminem como a melhor venda em uma semana do ano.

No total, Taylor vendeu 4 milhões de CDs nos EUA ao longo do ano (incluindo 880 mil cópias do seu CD anterior, Fearless, cujas vendas totais ultrapassam os 6 milhões de cópias no país), fazendo dela o ato que mais vendeu no país em 2010. Ela também é a maior vendedora country pelo quarto ano consecutivo.



4. My World 2.0 - Justin Bieber (2.14 milhões)

Biebs é o grande astro teen do ano e o maior vendedor pop de 2010 (uma vez que Taylor é classificada como country). O CD contém o single de maior sucesso de Justin, Baby, assim como Eenie Meenie, Somebody to Love e Ur Smile.

5. The Gift - Susan Boyle (1.852 milhões)

O segundo CD de Susan Boyle não repetiu o sucesso fenômenal de seu primeiro, I Dreamed Dream, cujas vendas chegaram a 4 milhões de cópias. Porém, o novo lançamento da escocesa, também todo formado por covers (uma versão de Perfect Day de Lou Reed foi usado como música de trabalho), teve resultados bastante dignos. É o segundo ano consecutivo que Boyle é a artista estrangeira que mais vende nos EUA (ah vai, Canada, terra do Biebs, é praticamente um estado americano mais liberal que a norma).



6. The Fame - Lady Gaga (1.591 milhões)

Lançado em 2008, The Fame é o único CD não lançado em 2010 a aparecer entre os dez mais vendidos. As vendas totais do álbum nos EUA estão próximas a 4 milhões de unidades vendidas.

7. Prisioner of Love - Sade (1.3 milhões)

O retorno da interprete de R&B britânica Sade depois de 10 anos foi bastante bem-sucedido nos EUA, onde ela teve a terceira melhor venda de primeira semana do ano, com mais de 500 mil cópias vendidas.



8. Thank Me Later - Drake (1.27 milhões)

Junto com Nicki Minaj, a grande revelação do rap dos últimos anos. Falei sobre o CD aqui.

9. Raymond v. Raymond - Usher (1.183 milhões)

O álbum contém dois gigantescos smash hits, OMG e DJ Got Us Fallin' in Love Again.

10. Animal - Ke$ha (1.143 milhões)

O álbum de Ke$ha foi o primeiro número 1 de 2010 e vendeu bem o suficiente para alcançar disco de platina.

  • O gênero que mais sofreu em 2010 foi o rock. Foi apenas a segunda vez, desde que o SoundScan foi criado em 1991, que o gênero não aparece representado nos 10 mais vendidos do ano e é a primeira vez que ele não aparece nem sequer no top 20 (pior, nem no top 30!). O álbum de rock mais vendido ao longo do ano foi Born Free do Kid Rock com 640 mil unidades comercializadas.
  • A trilha sonora mais vendida foi o CD de natal do elenco de Glee com 917 mil cópias e a trilha sonora de filme mais vendida foi a de Eclipse, o terceiro filme da saga Crepúsculo (517 mil). Com 388 mil cópias, Number Ones do Michael Jackson foi o álbum de catalogo com os melhores resultados enquanto Wicked foi o musical da Broadway cujo CD obteve as melhores vendas (172 mil cópias. O músical ocupou o primeiro lugar em 2004, 2005, 2006 e 2007 mas ficou em segundo nos últimos 2 anos, ofuscado por Jersey Boys).

Os singles mais vendidos:



1. California Gurls (ft. Snoop Dogg) - Katy Perry (4.4 milhões)
2. Hey, Soul Sister - Train (4.3 milhões)
3. Love the Way You Lie (ft. Rihanna) - Eminem (4.245 milhões)
4. Dynamite - Taio Cruz (4.083 milhões)
5. Airplanes (ft. Hayley Willaims) - B.o.B. (4 milhões)
6. OMG (ft. Will.i.Am) - Usher (3.76 milhões)
7. Not Afraid - Eminem (3.4 milhões)
8. Just the Way You Are - Bruno Mars (3.28 milhões)
9. Break Your Heart (ft. Ludacris) - Bruno Mars (3.245 milhões)
10. Need You Now - Lady Antebellum (3.2 milhões)
11. TiK ToK - Ke$ha (3.04 milhões)
12. Teenage Dream - Katy Perry (3 milhões)
13. I Like It (ft. Pitbull) - Enrique Iglesias (2.94 milhões)
14. Like a G6 (ft. Catracts Devs) - Far*East Movement (2.915 milhões)
15. Imma Be - Black Eyed Peas (2.9 milhões)
16. Just a Dream - Nelly (2.76 milhões)
17. Billionaire (ft. Bruno Mars) - Travie McCoy (2.73 milhões)
18. Baby (ft. Ludacris) - Justin Bieber (2.67 milhões)
19. Nothin' on You (ft. Bruno Mars) - B.o.B. (2.668 milhões)
20. Your Love Is My Drug - Ke$ha (2.664 milhões)


  • A Disney reinou os cinemas em 2010: Toy Story 3 foi o maior filme do ano nos EUA, onde arrecadou 415 milhões de dólares, e no mundo, com mais de 1 bilhão de dólares na bilheteria (1.063). O segundo lugar foi para a versão de Tim Burton de Alice in Wonderland com 334 milhões nos EUA e 1.024 bilhões em todo o mundo.
  • Também entre as cinco maiores arrecadações do ano nos EUA: Iron Man 2, The Twilight Saga: Eclipse e Inception.
  • A segunda metade do top 10 está dominado por filmes familiares: em sexto, Harry Potter and the Half-Blood Prince Part 1 (que deve ultrapassar Inception nas próximas semanas) seguido dos desenhos animados Despicable Me, Shrek Forever After e How to Train a Dragon. Karate Kid finaliza o top 10. Para mais informação sobre as bilheterias nos EUA ao longo do último ano, clique aqui.
  • Estima-se que Avatar vendeu mais de 10 milhões de DVDs ao longo de 2010, com Toy Story logo atrás (9 milhões de cópias em 2 meses). Em DVDs musicais, a coletânea de clipes de Michael Jackson, Visions, se destacou assim como I Am... World Tour de Beyoncé.
  • No mundo da literatura, o rei de 2010 foi o sueco Stieg Larson, autor da série Millenium, o grande fenômeno literária do ano com mais de 7 milhões de cópias vendidas. O primeiro livro da coleção, The Girl with the Dragon Tattoo (no Brasil, O Homem Que Não Amava as Mulheres) vendeu mais de 3 milhões de cópias enquanto as sequências, The Girl Who Played with Fire (A Garota que Brincou com Fogo) e The Girl Who Kicked the Hornet's Nest (A Rainha do Castelo de Ar) venderam 2.3 milhões e 1.5 milhão respectivamente.
  • Outro grande sucesso de ficção foi The Help de Kathryn Stockett. O livro fala sobre as lutas de mulheres negras que trabalham num country club no sul dos EUA durante os anos 60. 1.13 milhões de cópias foram comercializadas.
  • O livro de não-ficção mais vendido do ano foi Decision Points, a autobiográfia de George W Bush. Com 1.65 milhões de cópias comercializadas, o livro não fez feio mas não alcançou o sucesso da autobiográfia de Bill Clinton (2.5 milhões) e nem sequer da de Sara Palin, que moveu 2 milhões de cópías no ano passado.
  • Eat, Pray, Love, outro dos grandes fenômenos literários dos últimos anos, continuou forte em 2010 com 1.5 milhão de cópias vendidas, o segundo livro de não-ficção mais vendido do ano.
  • O humorista Jon Stewart, apresentador do jornalístico The Daily Show with Jon Stewart, continua uma marca forte. The Daily Show with Jon Stewart Presents Earth (the Book) vendeu 507 mil cópias.
  • Outra comediante e personalidade televisiva que registrou vendas extremamente altas foi Chelsea Handler, apresentadora do Chelsea Lately, talk-show do E! onde ela comenta, com seu humor caracteristico, a cultura pop. Seu terceiro livro de crônicas humorísticas, Chelsea Chelsea Bang Bang, vendeu 505 mil cópias enquanto o antecessor, Vodka Are You There? It's Me, Chelsea, lançado em 2008, ultrapassa 1 milhão. Não a toa, a editora que publica os livros da comediante a presenteou com seu próprio selo.
  • Um dos maiores sucessos do Twitter, Shit My Day Says também deu origem a um livro de sucesso, com 466 mil cópias comercializadas. O feed também deu origem a um sitcom da CBS.
  • Em livros infanto-juvenis, a coleção de livros humorísticos Diary of a Wimpy Kid, continua imparável, superando até a saga Crepúsculo: o quinto livro da série, The Ugly Truth, vendeu 1.63 milhões de cópias ao longo do ano. O primeiro volume também vendeu bem em 2010, com 659 mil cópias (e mais de 4 milhões no total) assim como as edições especiais The Wimpy Kid Movie Diary (746 mil) e Diary of a Wimpy Kid Do-It-Yourself Book (694 mil).
  • The Short Second Life of Bree Tenner de Stephanie Meyer, o spin-off de Crepúsculo lançado esse ano, vendeu 1.058 milhões de cópias. Já o último livro da coleção The Hunger Game (Jogo Voraz no Brasil) de Suzanne Collins, a grande aposta para ser a próxima milionária franquia voltada para jovens, vendeu 780 mil cópias. Os livros da coleção Percy Jackson também venderam solidamente, na casa dos 600 mil.

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